Escrito por: Richard Baxter
Traduzido por: Angel Scobar
É um grande dever de maridos e esposas viverem em tranquilidade e paz, evitando todas as ocasiões de ira e discórdia. Como este é um dever de tamanha importância, vou primeiro explicar a grande NECESSIDADE disso e, então, dar-lhes direções mais específicas para cumpri-lo.
(1) Sua discórdia será a sua dor e a vexação de suas vidas. Como uma doença, ou ferida, ou fratura em seus próprios corpos, que irá doer até que seja curada; dificilmente manterão a paz em suas mentes, quando a paz está quebrada tão perto de vocês em sua família. Assim como vocês tomariam cuidado para não se machucarem, e como se apressariam em buscar a cura quando feridos; assim também deveriam ter cuidado com qualquer quebra de paz, e rapidamente procurar curá-la quando estiver rompida.
(2) A dissensão “conflito” tende a esfriar o seu amor; dissensões frequentes tendem a deixar um hábito de desgosto e aversão na mente. Ferir é separar; e estar atados juntos por quaisquer laços exteriores, quando seus corações estão separados, é apenas ser atormentado; e ter o interior de adversários, enquanto possuem aparências matrimoniais externas. Como a diferença entre minha ‘casa’ e minha ‘prisão’ é que eu habito a primeira voluntariamente e com prazer, mas sou confinado à outra involuntariamente; tal será a diferença entre uma vida tranquila e uma inquieta, no seu estado matrimonial; transforma sua moradia e deleite em uma prisão, onde vocês estão acorrentados àquelas calamidades das quais, em uma condição livre, poderiam fugir.
(3) A dissensão entre o marido e a esposa desordena todos os outros assuntos familiares. Eles são como bois desigualmente jugados, que não conseguem realizar trabalho algum, porque estão sempre lutando um contra o outro.
(4) Isso os torna extremamente inadequados para o culto a Deus; não estão aptos para orarem juntos, nem para conversarem sobre coisas celestiais, nem para serem ajudantes das almas um do outro. Não preciso dizer isso a vocês, vocês sentem por experiência. Ira e amargura não permitirão que tenham tanto exercício de amor e compostura mental santa, como cada um desses deveres requer.
(5) A dissensão os incapacita de governar suas famílias corretamente. Seus filhos tomarão exemplo de vocês; ou pensarão que estão em liberdade para fazer o que desejam, quando os encontram ocupados com tamanha animosidade entre si. Eles acharão vocês inadequados para repreendê-los por seus erros, quando veem vocês culpados de tais falhas e tolices próprias. Mais ainda, vocês se tornarão a vergonha e zombaria secreta de seus filhos, e se colocarão em desprezo.
(6) Suas dissensões os exporão à maldade de Satanás e lhe darão vantagem para múltiplas tentações. Uma casa dividida não pode subsistir; um exército dividido é facilmente conquistado e feito presa do inimigo. Vocês não podem prever em que abundância de pecado estão se colocando em perigo.
Por todas essas razões, vocês podem ver a que as dissensões entre marido e mulher tendem.
Orientações para evitar conflitos no lar
(1) Mantenham o amor conjugal constantemente aquecido e vigoroso. O amor suprimirá a ira. Você não pode se tornar amargo por pequenas provocações contra aqueles a quem ama verdadeiramente; muito menos pode proceder a palavras de injúria, aversão e estranhamento, ou qualquer abuso um do outro. Ou, se uma ruptura e ferida infelizmente ocorrerem, a qualidade balsâmica do amor a curará. Mas quando o amor esfria, pequenas coisas exacerbam e geram antipatia.
(2) Tanto o marido quanto a esposa devem mortificar seu orgulho e paixão, que são as causas da impaciência; e devem orar e trabalhar por um espírito humilde, manso e tranquilo. Um coração orgulhoso fica perturbado e provocado por cada palavra ou ação que pareça diminuir seu valor. Uma mente irritadiça e orgulhosa é como um membro dolorido e ulcerado – que doerá se for tocado. Aquele que deve viver perto de uma mente assim dolorida, doente, impaciente, orgulhosa – deve viver como a enfermeira faz com a criança, que se empenha em balançá-la, acalmá-la e cantar para ela ficar tranquila quando chora; pois ficar irritado não adiantará. E se você se casou com alguém de temperamento tão doente ou infantil, deve resolver suportar e tratar essa pessoa de acordo. Mas nenhum cristão deveria tolerar tal enfermidade em si mesmo; nem ser paciente com tal impaciência, orgulho e arrogância em si mesmo. Uma vez que conquiste a vitória sobre si mesmo, e a cura de sua própria impaciência, facilmente manterá a paz um com o outro.
(3) Concordem previamente que, quando um estiver em um acesso de raiva tempestuosa, o outro suportará silenciosa e gentilmente até que passe e vocês voltem a si. Não fiquem irritados ao mesmo tempo. Quando o fogo acender, apaguem-no com palavras e comportamentos gentis, e não joguem mais combustível, respondendo de maneira provocativa e áspera, ou multiplicando palavras, e respondendo à ira com ira.
(4) Se não conseguirem acalmar rapidamente a raiva em seu coração – pelo menos abstenham suas línguas! Não falem palavras reprováveis ou provocativas. Falar de forma acalorada e irritada sopra o fogo e aumenta a chama. Mas fiquem em silêncio, e mais cedo retornarão à serenidade e paz. Palavras ofensivas tendem a mais desprazer. Como Sócrates disse quando sua esposa primeiro o insultou e depois jogou um vaso de água suja nele, “Eu pensei que, quando ouvi o trovão, viria a chuva”; assim vocês podem prever que o pior virá, quando começarem as palavras desagradáveis e impróprias. Se não conseguirem acalmar sua ira facilmente, podem manter suas línguas, se realmente estiverem dispostos.
(5) Permitam que a parte sóbria se rebaixe para falar gentilmente e suplicar ao outro. Digam à sua esposa ou marido irritado, ‘Você sabe que isso não deveria acontecer entre nós; o amor deve acalmá-lo, e isso deve ser lamentado. Deus não aprova, e nós não aprovaremos quando essa discussão acalorada acabar. Este estado de espírito é contrário a um estado de oração, e essa linguagem é contrária a uma linguagem de oração; devemos orar juntos em breve; não façamos nada agora que seja contrário à oração. Água doce e amarga não vêm da mesma fonte,’ etc. Algumas palavras calmas e humildes de razão podem deter o torrente e reviver a razão que a paixão havia vencido.
(6) Confessem seus erros um ao outro, quando a paixão irritada prevalecer contra vocês; e peçam perdão um ao outro, e juntem-se em oração a Deus pelo perdão. Isso colocará um maior compromisso em vocês na próxima vez, para se absterem de discussões. Certamente sentirão vergonha de fazer aquilo pelo qual já confessaram e pediram perdão – a Deus e um ao outro.
Se praticarem estas diretrizes, a paz em sua família pode ser preservada.